Rastros de morte e azar (ou seria sorte?)
E de novo, tem sangue no quintal. Um rastro de origem desconhecida, que me deixou curiosa para saber a história de azar. Seria outra galinha desaparecida? Um filhote que foi parar na boca do gavião? Um pássaro ou calango que minha gata desajeitada conseguiu capturar?
A borboleta parecia não se importar com a tragédia e começou a se alimentar do sangue. Não sabia que borboletas eram vampiras. Faço um movimento brusco com os pés e ela voa para longe de mim e da cena curiosa, que só vi porque decidi me sentar no chão. Existe todo um mundo em pleno funcionamento aqui embaixo, que do alto das nossas cabeças (e arrogâncias), não conseguimos enxergar
🐜 As formigas criam rodovias, com modernas técnicas de engenharia do trânsito: não se esbarrando, caminhando por duas mãos, e dando preferência a quem carrega o maior peso
🐛 As minhocas transformam o material orgânico da compostagem em comida nutritiva para o solo
🍄 Os cogumelos estabelecem uma conexão melhor do que qualquer 5G: a rede da floresta
🩸 E os mortos com suas histórias mal contadas e seus rastros de sangue me fazem querer ser um ser do chão, só para descobrir a fofoca
Sento para observar tudo isso e nada disso. Sento para sair do meu ponto de vista habitual, para interromper os fazeres da vida humana e explorar as possibilidades de estar aqui e agora. Sou bicho e me convido para a festa no solo
OBS: Não era sangue nada. Era sumo de beterraba que pingou da minha compostagem. Bom para borboleta. Me desculpo por chama-la de vampira
Será que os outros bichos imaginam tanto? 🤯