Esta semana recebi e comecei a ler o livro Amor Radical: O amor como prática de transformação pessoal, econômica, social e ambiental, do ativista e pensador Satish Kumar. O livro, inclusive, é publicado pela Bambual, uma editora maravilhosa (e através da qual muitos de vocês chegaram até esta newsletter) e você pode comprá-lo aqui.
Satish, um simpático senhor de 87 anos, que já foi monge jainista e caminhou da Índia até os EUA pregando a paz, é daqueles que cada frase nos emociona pelo poder e verdade que contém.
Martin Luther King, Mahatma Gandhi, Satish Kumar, Vandana Shiva, gurus espirituais, e tantos desconhecidos das massas têm algo em comum: qualquer coisa que eles falem é impactante. Pode ser a frase mais clichê do mundo. Mas saída de suas bocas, abrem portais em nós. Eles não parecem falar por eles mesmos, mas pelo próprio divino que os habita. Nos tocam porque são verdades que saem de suas almas para as nossas.
Mas como eles ultrapassam o véu da ilusão da separatividade para acessar essa consciência disponível para todos, já que não é a consciência deles, mas a consciência NELES que se expressa?
Todos eles possuem em comum uma presença profunda que os dá a habilidade de responder com plenitude aquilo que a vida pede, seja o que for. Não importa se estão meditando nos Himalaias, salvando sementes na Índia, falando sobre igualdade racial ou cuidando de vacas no interior do Brasil. Eles, se reconhecendo pequenos e, ao mesmo tempo, grandes (porque em profunda comunhão com o Todo) fazem com precisão e entrega aquilo que a vida lhes convida a fazer.
E como não poderiam estar tais ações embebidas em um profundo amor, em um amor radical? Se o estado de presença é o estado de comunhão com Deus e Deus é o próprio Amor…
Por isso, concordo com Satish quando ele diz que nossos ativismos precisam de amor. “Para mudarmos alguma coisa, precisamos do amor radical. Precisamos ser inspirados pelo amor e não pela raiva”. É esse o ingrediente secreto da real transformação. É o sumo, o éter, a substância que preenche qualquer ação que tenhamos. Seja um sorriso, uma frase, uma conversa despretensiosa… com amor, qualquer simples ação tem o poder de transformar tudo ao seu redor.
Não há esgotamento quando amamos, não há desistência. Quanto mais se ama, mais se tem, mais se é preenchido por aquilo que dá sentido à nossa existência neste planeta. Falamos tanto de interser nos meios da ecologia e do ativismo ambiental, mas essa noção está em nosso coração ou apenas em nossas mentes? Caminhamos intersendo? Trabalhamos intersendo? Protestamos intersendo?
Se no seu ativismo, você sente que está resistindo algo, ele precisa de mais amor. Quem ama não é violento, porque quem ama não resiste aquilo que é. Ele aponta o desvio, mostra como ser diferente, faz o que tem que ser feito… mas, enquanto as coisas não são como ele vislumbra, ele simplesmente aceita o que é. E assim, cumpre o seu papel na vida. Nem mais, nem menos. Mas aquilo que lhe cabe.
Krishna Das conta que uma vez assistia ao seu mestre Maharajji aconselhando um aluno para que ele meditasse como Cristo. Ele ficou curioso com a orientação e perguntou ao professor “Maharajji, como se medita como o Cristo?”, ao que ele respondeu “Ele se perdeu no amor, foi assim que meditou. Ele era um com todos os seres. Ele amava a todos, até mesmo às pessoas que o crucificaram. Ele nunca morreu. Ele é o atman [alma]. Ele vive no coração de todos. Ele se perdeu no amor”.
Perder-se no amor é a melhor coisa que podemos fazer pelo mundo. Ou melhor, é a única coisa que podemos fazer pelo mundo. No entanto, quando vivermos o amor, quando formos o próprio amor, nem uma revolução será mais necessária.
Dicas para aprofundar até a próxima newsletter:
Alguns dos livros e docs que me tocaram e me inspiraram a escrever este texto.
Livros
Amor radical - Satish Kumar (Bambual Editora)
O poder do agora - Eckhart Tolle (Editora Sextante)
Documentário
The Call of The Mountain com o ecologista profundo Arne Naess
A passagem do Satish pelo Brasil avivou ainda mais nossa relação com o caminho do Amor Radical, que possamos vive-lo verdadeiramente.
Tem um filme do Satish na @vivaemaquarius chamado Teaching Culture maravilhoso, super recomendo!