Neste fim de ano, são muitas as reflexões que chegam acerca da nossa própria vida. Cumprimos as nossas metas? Para onde estamos indo? Estamos seguindo nosso coração?
Geralmente, esses questionamentos geram desconforto. Nunca parece o suficiente. Parece uma corrida na qual não estamos indo muito bem. Mesmo já tendo abandonado um tanto das “métricas de sucesso” da sociedade de consumo (um segredinho: criamos outras).
Ou não seriam as novas metas: o nomadismo digital; conhecer 23 países em um ano; trabalhar com a sua paixão e ser bem remunerado por isso; ter relações livres, leves e soltas…? Ufa, achei que estávamos nos livrando de um tanto de expectativa sobre a vida, mas parece que perseguimos outras, talvez ainda mais inalcançáveis. Isso nos coloca num descompasso tão grande com a vida que a angústia passa a ser uma companheira.
Por isso, trago uma reflexão e uma proposta (de vida, talvez) que me chegou observando a natureza: estamos aqui para servir e não para sermos servidos. Pense em uma floresta: não há um único elemento em destaque, algo que se sobressaia e que faça mais do que os outros. Uma floresta é uma floresta porque cada elemento está em um lugar de comunhão profundo e constante com a vida, a ponto de cumprir exatamente aquilo que foi criado para fazer. Nem mais, nem menos. O suficiente.
Se transferirmos isso para as nossas vidas humanas conscientes, pode parecer difícil descobrir o que temos que fazer. Mas, perceba que, sempre que esta pergunta chega, você já logo coloca sua mente no jogo e tenta buscar com ela a resposta, de onde vem os delírios de grandeza e os “tenho que isso ou aquilo”, “deveria estar neste ou naquele lugar”.
Eis que outra pergunta me encontrou: o que a vida quer de mim agora? (ao invés do que eu quero da vida). Mas perceba que essa pergunta envolve uma certa humildade e aceitação de que, na maior parte do tempo, a vida quer de nós ações que consideramos banais e ordinárias. Como fazer nossas raízes crescerem mais um centímetro, soltar nosso pólen por aí, absorver água da chuva…
Hoje, ela me pediu para tirar umas flores que deixavam a calçada escorregadia e limpar o caminho para quem fosse passar após mim. Pediu para eu perguntar para uma senhora como estava o cachorro que ela tanto ama. Pediu para ouvir minha mãe contando a mesma história pela décima vez. E para eu escrever essa newsletter.
Ser um pequeno, mas fundamental, obreiro na dinâmica complexa, interconectada e perfeita do universo, está aí o sentido da vida. E se você conseguir aplicar amor a tudo isso, então, essa será a melhor contribuição que você pode oferecer para um planeta em transição.
A gente dá volta e mais voltas, faz mapas e consulta oráculos, cria metas infinitas para um novo ano que ainda nem se apresentou… mas esquecemos de fazer o BÁSICO bem feito. Para 2024, então, eu desejo que nós deixemos de lado as nossas expectativas do que a vida deveria ser e, em abertura e silêncio, sejamos o que ela precisa que nós. Simplesmente.
Deixo um singelo presente, um trecho do poema “A lei da natureza”, do poeta libanês Khalil Gibran:
“(…) Tudo vive na Terra segundo a lei da natureza, e dessa lei emerge a glória e a alegria da liberdade.
Mas a humanidade negou a si mesma essa ventura, porque estabeleceu uma lei limitada e terrena à alma dada por Deus.
Fez para si regras estritas e construiu uma prisão estreita e dolorosa, na qual isolou os afetos e desejos da humanidade. Cavou uma profunda cova, na qual enterrou o coração e o propósito da humanidade.
(…)
Acaso as pessoas continuarão escravas do confinamento autoimposto até o fim do mundo? Ou serão libertadas pelo passar do tempo e viverão no espírito e pelo espírito?”
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